Paula Pinto: O que é para ti Marcos, trabalhar em Rádio, saber que alguém (muita gente) te está a ouvir? Tens a sensação de muita responsabilidade?
Marcos Pinto: É a melhor sensação do mundo. Tenho a felicidade de cumprir um velho sonho. Tenho a ligeira sensação de que o sonho é mais velho do que eu. Responsabilidade? Sempre. Assim como a "pele de galinha", sempre que estamos no ar. A Rádio é esse fascínio, nunca se repete, cada momento é único, irrepetível. A interactividade leva a rádio ao seu esplendor sempre que falamos com um ouvinte ou lemos uma carta, vulgo mail, em directo. No outro dia, descobri uma citação que me impressionou. "Radio is the theater of the mind" (A Rádio é o teatro da mente). É o espaço que grava os nossos sons e as nossas imagens.
Marcos Pinto: Nós os dois, sabemos que a rádio não começa nem acaba nos maiores grupos de radiodifusão. Sei que estiveste na Rádio Moliceiro, Aveiro, e Rádio F, Guarda, uma estação que é uma verdadeira instituição. Que lições aprendeste, pelos caminhos de Portugal, antes de chegares à "prova dos 9" no Grupo Renascença?
Paula Pinto: Marcos, mas que bom saber que há um percurso de Rádio que já fiz e que é reconhecido! De facto, sinto muito orgulho em ter trabalhado nas então chamadas "Rádios Locais", nestes casos, excelentes na sua própria região. Aprendi muitíssimo. Aprendi, sobretudo, a ser "multitasking" (risos). Aprende-se de tudo numa Rádio mais "pequena", digamos. A trabalhar na régie, a sair em reportagem, a editar as notícias, editar sons, a fazer programas. E ninguém te ensina nada, tu aprendes por ti! Mesmo trabalhando em Rádio, coloco-me primeiro como ouvinte atenta de tudo. Quando cheguei ao Grupo Renascença, aceitei o desafio de começar pela Mega FM : comunicar eficazmente com um alvo etário abaixo do meu. Depois, ao passar para a Renascença, outro alvo etário completamente diferente. Honestamente, duas grandes aprendizagens desde que comecei em 1988, em Aveiro: sentir na pele que consigo comunicar com vários tipos de pessoas, independentemente da idade, da profissão, do sítio do país onde se encontrem; depois, esta faceta "multitasking" que tem sido muito enriquecedora também dentro do Grupo Renascença.
Paula Pinto: Domingo à tarde, ah, um dia de descanso em que te ouvem no carro, de passeio, ou quem está realmente a aproveitar a merecida pausa semanal. Parece-te ser um horário "menor" em termos de escuta de Rádio?
Marcos Pinto: Nenhum horário é menor em Rádio, seja numa tarde de fim-de-semana, ou de madrugada. Porque há quem trabalhe nestes horários, há sempre alguém que está em movimento. A rádio acompanha o movimento. No fim-de-semana, os estudos indicam que há menos ouvintes à escuta, mas não há ouvintes menores. Podem estar 100 ou 1000 pessoas ao nosso lado, podia estar apenas uma. O nosso papel é dar o nosso melhor e é isso que faço nas tardes de fim-de-semana, em directo. Pelo menos, tento.
Marcos Pinto: Ao fim-de-semana, ouvimos rádio e damos conta que, a maior parte da emissão, está gravada. Não achas que isso é a antítese da rádio "no ar"?
Paula Pinto: Bom, Marcos, eu estou em directo (risos). Lá se vão os meus fins-de-semana! A rádio está sempre "no ar", sempre! Claro que, estando em directo, existe uma maior interactividade com quem nos ouve; costumo pedir que me escrevam e-mails ou SMS e as respostas têm sido imediatas e fantásticas! Muitas vezes não tenho tempo "no ar" para responder às mensagens que vão chegando, mas tento responder aos e-mails todos que recebo, porque o feedback que chega tem sido muito agradável. E é assim que a comunicação se faz. A "voz" de quem está a ouvir-nos chega até nós e podemos responder. Creio também que, hoje em dia, as pessoas que ouvem rádio não ouvem como antes. Parece-me haver, actualmente, algumas vertentes que os ouvintes acham fundamentais - muita música, locutores que são pessoas "reais", por oposição ao "inacessível locutor estrela" (risos) e, claro, informação que lhes é útil. Garantindo estas premissas, a rádio está sempre "no ar"!
Sabes, acho que é muito importante, como profissionais de Rádio, avançarmos com os tempos e não ficarmos agarrados ao "antigamente era assim"... o que não quer dizer que não tenhamos aquela nostalgia da Rádio que ouvíamos quando éramos pequenos! Mas, tudo vai mudando; sinto que a Rádio tem de se adaptar aos tempos, também. Gostei muito desta nossa conversa, Marcos. Obrigada!
Vamo-nos encontrando no "éter". (sorriso)
Para “Mais Telefonia” é uma honra ter esta conversa de dois excelentes profissionais. Um grande muito obrigado por esta “Troca de Galhardetes”.